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"UM SER EM CONSTRUÇÃO"

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Sao Paulo, Brazil
Sou aquela que voa nas asas da borboleta Mas que também arde nas lavas de um vulcão Sou a suave brisa que acaricia seu rosto Mas também sou o vendaval que te arrasta Sou água que flui em rio caudaloso Sou fogo que arde de paixão Sou terra em que piso com passo forte Sou ar que em delírios se desprende do chão Sou fênix e das cinzas renasço Reconstruo a mim mesma, passo a passo Sou uma e em várias me reparto Em meus labirintos me perco para me reencontrar Junto meus pedaços e me reivento Me refaço de minha própria essência com gratidão e sem lamento e busco a cada dia ser mais inteira.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

              PENSAMENTOS DO DIA

 Fracasso é um evento e não uma pessoa. -
 William D. Brown

Dinheiro não é tudo. Mas fica muito à frente do que vem atrás!
Alemanha

"...Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava.
 Não sabia que somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. "
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

 Clarice Lispector

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O DIABO QUE SE APAIXONOU POR DEUS..

Certo diabo apaixonou-se por Deus sem nunca tê-lo visto. Depois de preparar-se por longo tempo, e com a ajuda de um informante, conseguiu infiltrar-se no complexo celeste e foi comprando com subornos, nível após nível, a vasta hierarquia de segurança que o separava da presença divina. Esse trajeto demorou muitos anos.
Naquela tarde o diabo molhou a mão do penúltimo intermediário e adentrou a ante-sala do trono por uma portinha lateral de serviço, junto da qual o esperava um anjo de cavanhaque e costas muito largas.
– Entre de uma vez – ordenou o anjo, e fechou a porta logo em seguida. A vinte passos deles, alto como uma montanha, dormia em sua cadeira o guardião da sala do trono.
Sem qualquer outro intercâmbio eles transpuseram o espaço até junto da porta da proposição, que está sempre fechada e cujas folhas esculpidas em madeira e revestidas de ouro têm cento e quarenta e quatro mil anos-luz de altura.
– Então – disse o anjo, quando estacaram diante da porta e avaliaram-se pela primeira e pela última vez – é você o diabo que apaixonou-se por Deus e vem procurando uma oportunidade de encontrar-se com ele.
– Apenas me poupe desse ar de superioridade moral – respondeu o diabo, ignorando a pergunta. – porque você sabe muito bem que somos muito parecidos. Nós no inferno odiamos tanto o pecado quanto vocês deste lado do abismo. Se estivesse prestando atenção, perceberia que são só os pecadores, os apóstatas e réprobos que nós atormentamos. Só os pecadores podem ser tentados, e só eles conhecerão a aflição da nossa miséria e do nosso desespero. Os santos, os valorosos e puros despertam apenas nossa admiração; nesses não ousaríamos tocar.
– Ou talvez seja nisso que você quer que eu acredite.
– Acredite no que quiser – pediu o diabo. – Apenas saiba, porque não tenho outra a pessoa a quem dizer, que foi justamente esse amor pela integridade e esse desprezo pela corrupção que fizeram com que eu me apaixonasse pela imagem divina.
O anjo deu de ombros e empurrou a porta, que era tão pesada e vasta que foram necessários mil anos para abrir uma fresta pela qual o diabo pudesse passar. A porta rangeu formidavelmente, mas o guardião em sua cadeira não se moveu nem despertou.
O diabo apertou nas mãos do anjo o valor que haviam ajustado, e fez menção de entrar na sala do trono pela estreita passagem. No último instante o anjo segurou-o pelo braço.
– Só preciso que você não ignore, porque quero ser honesto com você – disse o anjo, – que transposta esta porta a distância até o trono é vasta ao ponto do incalculável, e que quando finalmente chegar você estará velho, cansado e desorientado. Não só isso, mas encontrar-se com Deus terá para você um efeito inteiramente descaracterizador. Bastará contemplar pelo mais breve instante a divina presença para você ser imediatamente consumido por ela. Você não terá oportunidade de admirar a imagem de Deus ou de declarar o seu amor. Você terá gasto a sua vida inteira para chegar até Deus, e irá perdê-la para sempre no instante em que o encontrar. Se deixo você passar é porque sua entrada não representa risco para Deus; mas representa um horrendo risco pra você.
– Eu sei – disse o diabo, e seu rosto estava impassível.
– A divindade certamente não ignora que estou transgredindo deixando você entrar; porém Deus está tão distante que quando sua punição chegar já terei há muito deixado de existir. São poucos os que se dispõem a gastar a sua longevidade transpondo o espaço até ele.
E soltou o braço do diabo, que atravessou o limiar e desapareceu sala do trono adentro.
O trajeto até o trono de Deus demorou várias eternidades. As estrelas que o diabo trazia nos olhos se apagaram, e as flores perenes que trazia como presente converteram-se em sequidão e decrepitude e ele deixou-as no caminho, e o trono não chegava. Galáxias nasceram e morreram, e à sua sombra foi-se encurvando e distorcendo a espinha dorsal de todas as coisas, mas o diabo continuou andando. Atravessou resignadamente o silêncio das eras e a esterilidade dos mundos, e quando alcançou a outra extremidade da sala estava velho e cansado, e não trazia mais consigo nenhuma das certezas que lhe haviam iluminado o caminho.
Para sua surpresa, quando chegou ao fim do caminho não havia trono algum, nem qualquer indício da residência de Deus: só uma porta baixa com uma cortina barata de miçangas, e por trás dela um esplendor. O diabo bateu palmas uma vez, depois duas, e por fim uma voz o convidou a atravessar.
Ele afastou com as mãos as fileiras de contas, abaixou a cabeça e do outro lado encontrou um homem decrépito, desdentado, seminu e cheio de chagas, dormindo em imundícia sobre caixas de papelão numa avenida da cidade grande.
O diabo estava velho e cansado, mas seu rosto de diabo ainda era belíssimo, o corpo forte e obediente, os trajes impecáveis e magníficos. Ele reconheceu Deus imediatamente, ajoelhou-se sem qualquer recato sobre a imundícia, tomou-o nos braços e beijou-o longamente na boca sem dentes.
Depois tirou a capa e fez menção de cobrir com ela a nudez divina, mas Deus deteve sua mão com um braço raquítico.
– Não, não faça isso! Minha nudez e minha velhice e minha fome são meu brasão nobiliárquico, e decidi há muito tempo não tentar, até o final, seduzir os homens com outro recurso.
– Mas Deus – implorou o diabo, – eu atravessei eternidades e dormi no vácuo entre as estrelas só para poder finalmente declarar-lhe o meu amor! Permita-me vesti-lo, alimentá-lo e acalentá-lo, para que minha jornada não tenha sido em vão! Permita que eu o carregue de volta até o Paraíso, onde os santos lhe tratarão as chagas, onde os anjos lhe alimentarão de pão e onde a luz sem mácula da santidade lhe restaurará a saúde e a glória!
Mas Deus apertou a mão do diabo e olhou-o firmemente nos olhos.
– Não, não, mil vezes não! Não posso retribuir o seu amor, porque minha paixão é outra – e nesse ponto Deus apertou ainda mais o cingir dos dedos, – mas eu aceito o seu amor. Eu o aceito e o perdoo, como você vai perdoar o meu. A mim também disseram que a viagem seria impossivelmente longa e que, quando eu chegasse, aquele que amo não seria capaz de me reconhecer. A mim também disseram que o encontro com meu amado representaria o meu imediato e derradeiro fim, e que tudo que há de bom e virtuoso em mim seria imediatamente consumido pela minha decisão de partilhar da sua condição. A mim também disseram que neste trajeto o risco seria apenas meu, e que eu estaria derramando em vão o mais precioso amor por quem se mostraria inteiramente incapaz de aceitá-lo e de retribuir.
E o diabo chorava convulsivamente.
– Mas – e Deus levantou sobrancelhas patéticas e sorriu com três ou quatro dentes, – valeu à pena. É por isso que convém até o final que o homem me veja assim, sem qualquer disfarce, para que possa quem sabe me reconhecer e me amar.
O diabo então sentou-se em seus trajes magníficos ao lado da divina miséria, e dormia abraçado a Deus para proteger-lhe do frio, e exultava quando um homem parava um instante para deitar aos seus pés uma moeda ou um pedaço de pão. E de noite acordava sobressaltado, quando não tinha certeza se ainda ouvia no divino peito o divino coração.

domingo, 28 de agosto de 2011

ÁRDUO CAMINHAR

FILHA INGRATA


A mala pronta
o corpo desnudo
pés no chão
sem rumo, sem porto
menina-mulher
seios a despontar
corpo indefinido
medo nos olhos
vacilantes passos
difícil caminho
a ser trilhado
armadilhas espalhadas
por todo o chão
dificultam o caminhar
marcas de vermelho sangue
de feridas de outrora
seus olhos observam
estática e muda
assim permanece
menina-mulher
desconhece o caminho
mas sente em si
a semente da coragem
que a impulsiona
em sua busca
raízes arrancadas
pela dor extirpadas
só está consigo...

...desejos de voar
 
Aninha

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

OLHA SO ESSE CARINHA!!! É LINDO...

ENZO









Pietro Lorenzo      












                O "HOSPEDE"
(QUE FICARA EM NOSSAS VIDAS)

Ele apareceu com uma comitiva não inferior a três pessoas, cuja missão na vida era atender a todas as suas necessidades. Fomos informados que teríamos que acomodar toda essa gente. Assim o fizemos. Ele chegou trazendo (imagine só!) a sua própria coleção de ferramentas e, nos primeiros momentos de folga, começava a desmontar quase tudo o que havia na casa. Gostamos de levar as pessoas que nos visitam pela primeira vez para almoçar num belo restaurante na serra, onde se tem uma vista maravilhosa. A paisagem geralmente deixa as pessoas fascinadas, Pois o cara nem ligou: chegava a bocejar de sono. Como se não bastasse, fez uma cena na hora do almoço, recusando comer o que fora pedido para ele, jogando o prato longe. Além disso, antes de sairmos do local, peguei-o beijando a garçonete. Revelou-se um verdadeira desmancha prazeres. Enquanto ele dormia, a sua comitiva cuidava para que o seu sono não fosse interrompido, obrigando todos a andarem na ponta dos pés e a falar baixinho. Quanto acordava, por volta das cinco horas da manhã, era propenso a fazer com que todos acordassem também, monopolizando a conversa em tom de voz bastante elevado. Enfim, todos tinham que estar totalmente à sua disposição, atendê-lo nas suas necessidades todas e do jeito que ele queria.

MEU ENZO(já c/os óculos da vóvó)

                 O  "HOSPEDE"
(QUE FICARA EM NOSSAS VIDAS)

Ele apareceu com uma comitiva não inferior a três pessoas, cuja missão na vida era atender a todas as suas necessidades. Fomos informados que teríamos que acomodar toda essa gente. Assim o fizemos.

Ele chegou trazendo (imagine só!) a sua própria coleção de ferramentas e, nos primeiros momentos de folga, começava a desmontar quase tudo o que havia na casa.

Gostamos de levar as pessoas que nos visitam pela primeira vez para almoçar num belo restaurante na serra, onde se tem uma vista maravilhosa. A paisagem geralmente deixa as pessoas fascinadas, Pois o cara nem ligou: chegava a bocejar de sono.

Como se não bastasse, fez uma cena na hora do almoço, recusando comer o que fora pedido para ele, jogando o prato longe. Além disso, antes de sairmos do local, peguei-o beijando a garçonete.

Revelou-se um verdadeira desmancha prazeres. Enquanto ele dormia, a sua comitiva cuidava para que o seu sono não fosse interrompido, obrigando todos a andarem na ponta dos pés e a falar baixinho. Quanto acordava, por volta das cinco horas da manhã, era propenso a fazer com que todos acordassem também, monopolizando a conversa em tom de voz bastante elevado.

Enfim, todos tinham que estar totalmente à sua disposição, atendê-lo nas suas necessidades todas e do jeito que ele queria.


Morgs e Pietro Lorenzo